Narrative journalism: a reflection on political and symbolic representations of Latin America
Periodismo narrativo: una reflexión sobre representaciones políticas y simbólicas de América Latina
—
Guilherme SILVA DA CRUZ
Universidade Federal da Integração Latino-americana guilhermecruzz@live.com
—
Chasqui. Revista Latinoamericana de Comunicación
N.º 141, abril - julio 2019 (Sección Informe, pp. 75-94)
ISSN 1390-1079 / e-ISSN 1390-924X
Ecuador: CIESPAL
Recibido: 19-07-2019 / Aprobado: 29-11-2019
Resumo
Esse trabalho expõe parte de dissertação realizada sobre representações simbólicas e políticas formuladas pelo jornalismo narrativo contemporâneo. A metodologia especifica uma discussão sobre hegemonia, controle e poder, com base em grupos temáticos de análise. No qual, se reflexiona sobre uma produção embasada em identidades heterogêneas que evidencia uma pluralidade do fazer político. Desde uma amostra de duas crónicas das revistas Etiqueta Negra e El Malpensante se incide a discussão que se envolve no marco teórico desde a formação histórica da crónica, até a compreensão do processo de mediação sociocultural frente as relações de poder. A discussão que se pretende articula imaginário, influência narrativa, práticas de controle, humanização dos processos comunicacionais e a memória social.
Palavras-chave: identidade, representação simbólica, política, jornalismo, América Latina, crónica
Abstract
This paper aims to expose part of a dissertation on symbolic and political representations formulated by contemporary narrative journalism. The methodology specifies a discussion on hegemony, control and power, based on thematic groups of analysis, which reflects on a production based on heterogeneous identities that highlights a plurality of political making. The discussion is raised from a sample of two chronicles of Etiqueta Negra and El Malpensante magazines, which involves the theoretical framework from the historical formation of the chronicle to the understanding of the process of socio-cultural mediation before power relations. This discussion intends to articulate imaginary, narrative influence, control practices, humanization of communication processes and social memory.
Keywords: identity; symbolic representation; politics; journalism; Latin America; chronicles
Resumen
Este artículo expone parte de una disertación sobre representaciones simbólicas y políticas formuladas por el periodismo narrativo contemporáneo. La metodología especifica una discusión de hegemonía, control y poder, con base en grupos de temáticos de análisis. En el cual, reflexiona sobre una producción basada en identidades heterogéneas que muestra una pluralidad del hacer político. A partir de una muestra de dos crónicas de las revistas Etiqueta Negra y El Malpensante, nos enfocamos en la discusión que involucra el marco teórico desde la formación histórica de la crónica, hasta la comprensión del proceso de mediación sociocultural frente las relaciones de poder. La discusión busca una articulación con el imaginario, influencia narrativa, las prácticas de control, la humanización de los procesos de comunicación y la memoria social.
Palavras chave: identidad; representación simbólica; política; periodismo; América Latina; crónica
O ato de narrar tornou-se um elemento da formação histórica da humanidade acompanhando a sua evolução, permanência e perenidade. É a partir desse ato transitivo que distintos modos de vidas são expostos ao imaginário e ao movimento de uma universalidade plural.
Dentro do jornalismo, que também possuiu no seu escopo o princípio de contar histórias, trabalhar com representações múltiplas no ato de narrar se torna parte formativa. Na América Latina contemporânea se compreende um esforço jornalístico e autoral de muitos escritores e escritoras que buscam traçar representações contrastantes ao modelo midiático tradicional. E dessa maneira, espelham a complexificação da realidade sociopolítico na região. Em meio a processos que desmitificam tabus (e recriam outros tantos), com crises democráticas, políticas e climáticas, de refundações populistas, de manipulações judiciais e eleitoreiras, embates entre progressistas e conservadores, de reivindicações feministas, da luta antiracista, renovação do movimento indígena, se torna necessário outras ferramentas para narrar essas histórias com personagens que geralmente não são centrais na narrativa jornalística hegemônica1 .
Assim, o território latino-americano é transpassado por crónicas que visam enumerar esse emaranhado político da região. Portanto, se observa que o jornalismo narrativo produzido em livros, revistas e projetos digitais trazem a atualização de formações simbólicas e políticas pelo viés da comunicação. O gênero tem ganhado notoriedade em colunas, eventos, prêmios, oficinas e tem mostrado uma economia representativa em vários projetos editoriais. Partimos que desde a sua sedimentação estilística se acarretou um mapeamento de identidades heterogêneas; um elemento diferenciado do que mostram alguns manuais de redação. Essa contraposição estilística de escrita do jornalismo narrativo é realizada perante a um jornalismo que classificamos como diário, massivo e corporativo. Desse modo, com intuito de exemplificar nesse artigo a reflexão proposta recolhemos uma amostragem de análise em duas crónicas de duas revistas especializadas de países distintos, são elas: Etiqueta Negra (Peru) e El Malpensante (Colômbia).
Essa pesquisa destaca que a crónica se trata de um gênero híbrido que transpõe barreiras estilísticas, desde áreas de conhecimentos diferentes. Com esse mesmo intuito essa pesquisa articula um olhar interdisciplinar, ao dialogar com uma perspectiva do papel da mediação sociocultural dessas crónicas, principalmente pelo viés proposto por Jesús Martín-Barbero. E enlaçamos o ícone da palavra como fundamento desse jornalismo narrativo – uma palavra silenciada e retomada. E ainda como marco teórico se reflexiona sobre identidade, e práticas do poder, dominação e o fazer político pelas leituras de Frantz Fanon, Michel Foucault e Anibal Quijano.
Esse artigo realiza uma síntese das principais discussões de nossa dissertação, e possuiu como objetivo o convite a introdução ao tema e propor uma discussão de elaboração contranarrativa sobre controle midiático e do papel político contido na memória e na mediação.
De início se torna necessário sublinhar a opção pela denominação “jornalismo narrativo”, e como classificamos tal objeto empírico. Muitos teóricos conceituam o jornalismo narrativo como “co-irmãos” do new journalism, do jornalismo literário, literatura de não-ficção, entre outras nomenclaturas. Nosso princípio sobre o jornalismo narrativo se desenvolve por não delimitar uma faixa temporal ou um fenômeno editorial, mas sim um fazer jornalístico que agrega prática, vivência e técnica.
Prática: pré-produção aprofundada, pesquisas complexas, leitura de um tempo;
Vivência: classe de narrador(a), desvinculação de estigmas, presença como elemento essencial;
Técnica: especialização de escrita de grande fôlego, propõem experiências ao leitor, utilização de ferramentas de diversos campos de conhecimento.
São esses elementos que nos auxiliam na qualificação do jornalismo narrativo como macro-gênero utilizador de técnicas do jornalismo. O jornalismo narrativo é realizado por diferentes plataformas, através de produtos audiovisuais, radiofônicos, fotográficos. E aqui enfatizamos a sua porção textual através do gênero crónica. Outra diferenciação necessária é que trabalhamos com uma pretensa tradição da crónica latinoamericana vinculada a informação, literatura e heterogeneidade entre fatos e opiniões (Galindo & Naranjo, 2016, p. 9). Brevemente salientamos que determinadas correntes teóricas narram a história da crónica na América Latina desde e a partir dos Cronistas de la Indias. No qual, textos do século XVI já possuíam elementos que até hoje fazem as características do jornalismo narrativo como a voz do narrador, mirada, reflexão e maneira elaborada de informar. Autores como Michel de Certeau, Juan Domingues e Mónica Bernabé discutem sobre essa escrita do olhar colonizador. Desse momento, também faz parte uma fase denominada crónica modernista, realçada pela presença de literatos nas redações, no registro da modernização das grandes cidades e o princípio da profissionalização de escritores. Ramos (2009, p. 56) identifica essa fase no fim do século XIX – se os Cronistas de las Indias inventavam um território para a coroa, os cronistas modernos inventam a nação. Essa fase tem como expoentes autores como o cubano José Martí (1853 - 1895) e o nicaraguense Rubén Darío (1867 - 1916). A partir dessa fase, a cronologia da crónica torna-se difusa e nomes surgem com características próprias e cada um em seu momento reformulam os caminhos da crónica – aqui se destacam nomes como o argentino Rodolfo Walsh (1927 - 1977) e o colombiano Gabriel Garcia Márquez (1927 - 2014). São essas fases que garantem a sedimentação estilística para os cronistas atuais.
Como elemento que trama essa cronologia, o que se impõe é a utilização da palavra como signo híbrido e difuso dentro da criação de uma crónica. Nesse sentido, o tratamento a palavra desestabiliza uma agenda setting – entendido como uma formação de tempo reprisado e linear. Através da figuração do contexto (histórico, emotivo, pessoal, etc.) a palavra se torna uma figura convertida em elemento político-poético. A palavra tida como finalidade de mediação sociocultural insere-se como suporte de um processo dúbio e contraditório, de inclusão e exclusão, silenciamento e contestação que emancipa, mas conjuntamente, corrobora com o poder do Estado-nação direcionando para inúmeras tensões proporcionadas por sua raiz de conotação opressora: “los medios han pasado a constituir un espacio clave de condensación e intersección de la producción y el consumo cultural, al mismo tiempo que catalizan hoy algunas de las más intensas redes de poder.” (Martín-Barbero, 2002, p. 226). Portanto, a palavra-mediadora ganha raiz no campo do jornalismo narrativo, no qual se torna fundamento para alavancar outros sujeitos e forças políticas e, ainda, “desmonopolizar la palabra en beneficio de um mayor pluralismo y diversidad” (León, 2016, p.1). Serão essas outras arquiteturas de narrativas que asseguram a relevância de um texto jornalístico com pautas e recortes que dinamizam o imaginário e os territórios simbólicos e políticos da América Latina. Ou seja, indica-se uma complexificação do processo de mediação, ao mesmo tempo em que as relações de poder e controle se intensificam pela disputa da linguagem, e da voz.
Para a proposta desse trabalho se aplica uma metodologia qualitativadescritiva que engloba, primeiramente, a elaboração de um corpus de revistas especializadas em crónicas seguindo os seguintes critérios: a) especialização ou destaque para a crónica; b) periodicidade contínua; c) tempo de existência (superior ou igual a cinco anos); d) relevância e participação em eventos e prêmios; e) publicações de pautas de distintos países (para caracterizar sua amplitude na região); e por fim, f ) estrutura que possibilitou a longevidade do projeto. Respeitando o devido espaço desse artigo foram selecionadas as revistas: Etiqueta Negra (Peru) e El Malpensante (Colômbia).
A revista colombiana iniciou em 1996, e se mantem física e virtualmente, e além do jornalismo abarca outras áreas como literatura, cinema, música, arte e arquitetura. A publicação tem como diretor o jornalista Ángel Unfried, e editor Karim Ganem Maloof, e ainda como um de seus fundadores o escritor Andrés Hoyos. A revista mensal conta em seu site com materiais exclusivos, e forte incentivo para assinantes. A revista já expos trabalhos que ganharam Premio Nacional de Periodismo Simón Bolívar. Já a revista peruana começou em 2002 com uma ideia de Julio Villanueva Chang. A junção do jornalista e a pretensão de utilizar espaços de publicidade na imprensa especializada foram decisivas para a manutenção do projeto, segundo Alonso (2007). O perfil do seu público é identificada entre os 25 e 55 anos, de nível acadêmico elevado. Em seus índices de distribuição 40% são assinaturas, e os restantes estão espalhados por lojas, livrarias e supermercados2 . Mantêm vida digital e física, e já recebeu o Premio Nuevo Periodismo CEMEX+FNPI, e possuiu periodicidade mensal.
Logo para seleção das crónicas se respaldou em busca pela palavrachave “Política” –classificação baseada nas editorias dos sites das revistas mencionadas entre os anos de 2006 até 2011– para estabelecer o que se enquadra como assunto político por essa rede. De cada revista seleciona-se um texto que versa sobre figuras de poder tradicionais, aqui entendidas como representações configuradas por meio e a partir da legitimação do Estado-nação –como representantes governamentais e partidários, do poder jurídico, representantes religiosos e de multinacionais. E ainda, seleciona-se outro texto expondo outras figuras de poder, em contraste e por afirmação de outros modelos de atuação e do fazer político– ora indicados por grupos e movimentos sociais, ora por fortificações individuais e influentes, como líderes feministas, indígenas e quilombolas, grupos sociais silenciados e/ou estereotipadas pelo jornalismo hegemônico, ações e eventos representativos na configuração política da região.
Assim, partimos de um estudo de caso, de interpretação critica e interdisciplinar da análise de discurso vigente dentro do corpus exposto. Como roteiro de análise se utiliza os seguintes itens: Discurso/Enunciados (“quem fala” - entrevistados com citações diretas no texto; Tema e contextualização; Posicionamento da/do cronista (o “eu” identificado, ou não, no texto); Perfis políticos (quais são identificados e como se caracterizam); Exposição de vozes oponentes e/ou componentes; Metáforas e Imagens (“como fala” – o narrador e os significados políticos e estéticos); Tipos de fontes de informação.
Na trajetória da pesquisa, adentra-se ao questionamento de dois trabalhos jornalísticos divididos em dois grupos (Figuras de poder tradicional e Outras figuras de poder). Serão essas crónicas as fontes de discussão e reflexão sobre como se apresentam as representações políticas e simbólicas nas narrativas jornalísticas, elaboradas por esses cronistas, sobre o momento político da América Latina.
Mas quais são os elementos, discursos, pessoas e posicionamentos que são mediados pela representação cronista? Atualmente, a América Latina intensifica seus laços de identidade e impulsiona a pluralidade de quem faz parte da cena política. O que nos interessa identificar é como essa pluralidade dos elementos de poder é espelhado pelas crónicas em análise. Pois, é a partir do cenário comunicativo que se “exige que a política recupere sua dimensão simbólica – sua capacidade de representar o vínculo entre os cidadãos, o sentimento de pertencer a uma comunidade – para enfrentar a erosão da ordem coletiva” (Martín-Barbero, 2009, p. 15). Nessa proposta de leitura está contida a ideia de reviver o simbólico, e toda a sua influência na vida concreta. São ferramentas de descolonização, elemento que Fanon (1968, p. 26) conjuga no parâmetro da mudança radical do sistema-mundo em forma de transformação que rompe os silêncios.
Assinala-se que a hegemonia do discurso se amalgama também através da concentração-monopólio, se configura por um forte aparato corporativo, por meio do poderio econômico e político de influência. E desse modo, o jornalismo hegemônico se transveste de uma descontextualização das relações sociais focalizando a formalização dominante de sua instituição (Calegaro & Lago, 2011, p. 36). Por conseguinte, comunicar é fazer política e fazer leituras sobre, desde e a partir do poder. Foucault (2002, p. 98) teoriza que o poder se conjuga através de uma “evolução” experimental do controle, através da vigilância e com a utilização do “regime da verdade” como meio que perpetua procedimentos de manejo e acesso ao poder. Em nossa análise também consideramos a ótica da Colonialidad del poder de Quijano (2007) quando o autor traça que os padrões específicos do poder e o seu desenvolvimento hegemônico provindo desde a Conquista, a partir da classificação racial e do trabalho. O autor demonstra com essa perspectiva uma ressignificação de identidades geoculturais. “Por isso as instituições hegemônicas de cada âmbito de existência social, são universais para a população do mundo como modelos intersubjetivos” (p. 124). Desse modo, junto ao Estado-nação, família burguesa, e o corporativismo incluímos a comunicação nesse conjunto estável e universal de valoração (e controle).
Por isso, os discursos de afirmação de alteridades se renovam no cenário político e trazem temas como a autonomia dos povos e territorialidade como uma nova agenda de reconhecimento e reinvenções identitárias (Svampa, 2016) que trazem novos modos de atuação política, permeando assim, uma constituição maleável de força heterogênea. A ideia de formaciones nacionales de alteridade, de Segato (2007), traz um entendimento de uma subjetividade local (pessoal) que age sob o global que revigora a política. Dessa maneira, o perfil político latinoamericano, além de ser heterogêneo, está carregado como efeito de ações como as crises políticas e econômicas da região, resultado de governos neoliberais, da resignificação dos discursos silenciados, da ascensão e queda dos governos denominados “progressistas” e de centro-esquerda (Svampa, 2010, p. 4). Para Calegaro e Lago (2011), essas consequências são determinantes para o surgimento e afirmação de novas identidades sociais que envolvem o aumento da pobreza, o desmantelamento de políticas sociais universalistas, o fim de fábricas e comércios menores, a concentração do poder e a destruição das economias regionais (p. 31). Essas indicações servem como princípios para a análise das crónicas, no qual o debate sobre as estruturas do poder social se convergem ao campo comunicacional.
O debate da movimentação, estruturas e poderio político alicerçado dentro da ação comunicacional chega ao ponto de convergência que embasou desde o início esse trabalho. Uma formação política delineada de redefinições de territorialidades, cidadania, instituições e relações socioculturais. Assim, apresentamos as crónicas como nosso objeto de estudo, cada texto se refere as representações propostas: Figuras tradicionais de poder e Outras figuras de poder. Rememoramos que essa divisão se torna ferramenta de exposição para enquadramento da discussão, e não como um manuseio da leitura social limitada como uma dicotomia. Por conseguinte, o grupo temático de crónicas passa pelo roteiro de análise exposto anteriormente, destacando: Discurso/ Enunciados; tema e contextualização; posicionamento da/do cronista; perfis políticos; exposição de vozes oponentes e/ou componentes; metáforas e imagens. O intercruzamento proposto parte da força do ícone palavra, pois vem dela a constituição da narrativa: “as narrativas criam significações sociais, são produtos culturais inseridos em certos contextos históricos, cristalizam as crenças, os valores, as ideologias, a política, a cultura” (Motta, 2013, p. 121). São essas narrativas de formação social com elementos político-poéticos que chamamos atenção para essa análise.
Tais figuras se evidenciam a partir da legitimação do Estado-nação, condição de ser resultado da efetivação da economia capitalista e das classes sociais que serão protagonistas nos embates contemporâneos, sendo representada pela unidade político-territorial composta pela nação, estado e território (Bresser-Pereira, 2008, p. 2-3). Múltiplos olhares buscam a teorização sobre o Estado-nação, mas nesse momento buscamos enfatizar a conjunção dinâmica do controle e do poder por sobre o imaginário. Por meio de Anderson e a conceituação da comunidade imaginada é que se observa a complementariedade entre nacionalismo e formação cultural que conjugam essa formação. E culturalmente, podemos indicar o campo jornalístico como contribuinte dessa formatação imaginada de uma nação, porque será ela que garante a “simultaneidade sólida e constante ao longo do tempo” (2013, p. 104). Atualmente, tais figuras se apresentam como representantes governamentais e partidários, do poder jurídico, representantes religiosos, entre outros. Desse modo, expomos para discussão dessas figuras tradicionais o texto El pastor electrónico como estrella de TV, de autoria de Camila Moraes e publicado pela revista Etiqueta Negra em 2011.
Uma figura tradicional de poder não pode ser confundida com um elemento fixo em sua formatação. E de forma retórica a crónica em análise inicia com uma pergunta aos leitores que logo revela essa formatação: ¿Por qué la televisión evangelista es más divertida que ir a missa los domingos?.
A relação midiática com a religião tem se intensificado nas últimas décadas, e a partir de ascensão de igrejas evangélicas e seus canais de televisão, a crónica debate a dinâmica da comunicação, e principalmente a construção de figuras legítimas de confiança e admiração. A cronista escolhe o pastor R.R. Soares como personagem e demonstra em sua narrativa como a doutrina se coliga com os efeitos televisivos. O perfil produzido por Moraes reconta desde a vida pessoal do personagem principal, até o desenvolvimento de sua igreja com meios publicitários e da cultura pop, e ainda o funcionamento dos seus cultos transmitidos ao vivo para a maioria da América Latina. A crónica centra sua representação na interpretação direta da jornalista, quase sem falas, entrevistas ou citações. A reportagem traz constantes ambientações dentro da Igreja Internacional da Graça de Deus. A jornalista opta pelo termo teleevangelistas para descrever o desempenho que o pastor realiza nos cultos sobre seus assistentes: “Están atentos, concentrados y son guiados por um líder que se esfuerza por atender e divertir a su público. Nadie carece de convicción. Es el encuentro perfecto de la necesidad con la ‘solución’” (p. 76). E foi através de uma popularização que mensagens conservadoras recomeçaram a reviver no ambiente político latino-americano, principalmente no Brasil onde foi eleito um presidente com evidente coesão com o discurso religioso conservador. A conformação de um status aos pastores, a receita de um líder e as palavras sábias são realçados ao perfil de um bom pastor:
Un buen pastor sabe poner la retórica antes que sus conocimientos religiosos, lo que no significa que no los tenga o que no los pueda dispensar. Nada se dice sin hacer referencial al Señor, a su sabiduría y a su amor infinito por los pecadores allí presentes. Testimonios personales, de los que generan la ilusión de cercanía y hasta de intimidad entre amigos, se mezclan con términos respetuosos, elegidos con cuidado. Una cita bíblica aparece de vez en cuando, en un esfuerzo por demonstrar que lo dicho está documentado. Esta fría mañana de invierno de 2011, el showman es R.R. Soares, uno de los pastores más famosos de la televisón brasileña. (Moraes, 2011, p. 76)
Para a jornalista é essa união que configura de forma paralela e ambígua – mas nunca inconsciente – o pastor em showman. É essa figura, retratada como líder, como a voz que sobressai que é apresentada de maneira atualizada uma figura tradicional de poder.
Ao contextualizar historicamente – outro fator de formação do cronista contemporâneo – a jornalista demonstra que por intermédio da ditadura militar nos anos 1970 se iniciou uma abertura para igrejas evangélicas inspiradas ao modelo norte-americano, conectando-se ao crescimento industrial e o capital externo. Mesma época, no qual a Teologia da Libertação buscava identificação em comunidades latino-americanas. A constante e permanente voz da narradora apresenta um trabalho que entoa orações, sermão e sensações pessoais da sua presença, e assume sua função mediadora. Ao momento que a cronista instiga o leitor: “Los que no creen en milagros sólo necesitan ver más televisión” (p. 76) –, que permite a crítica geopolítica da região – “al país que poco a poco deja de ser conocido solo como tierra del fútbol para convertirse em productor líder de sermones inspiradores pero también, algunas veces, de modelos de estafas em nombre del Señor” (p. 78). Alicerçando não somente a crítica, mas a sua compatibilidade para o entendimento pessoal do que é retratado: “Para ellos, que acaban de experimentar la cura, el show, la catarses, hay una promessa: las cosas están a punto de cambiar. Mañana podrán ser patrocinadores.” (p. 79). São essas miradas pessoais, íntimas e intransferíveis que fazem do olhar cronista algo que nos ajuda a levantar as crises representativas e as crenças (religiosas ou não) que se assumem nesse novo tempo. Ao texto se percebe uma constante vivência, no experimento do poder do discurso e a formação do show nas relações sociais daquele espaço traduzido em relato, conforme Reguillo (In: Falbo, 2007, p. 42), a irredutibilidade da ambígua e complexa vida social.
Estamos em un estudio, pero el objetivo es orar. Bajo el mando de Soares, que luego transmitirá la batuta a un colega, se inicia con una invitación a expulsar las tentaciones y los demonios interiores. Al ritmo creciente del sermón del pastor, todos los que antes tenían los ojos abiertos y puestos sobre el escenario ahora lso cierran para concentrarse en um automurmullo que, poco a poco, se transforma en una nube sonora y penetrante que estala en un grito que nos despierta a todos del trance. Hay una cura, determina el pastor. En nombre de Jesús desaparecen los dolores: los que no se podían mover se agachan, se levantan y empiezan a brincar. Se comprueba el efecto de la sanación con los testemonios que los asistentes de producción solicitan a la audiencia con sus micrófonos en mano. Todo sucede muy deprisa. De repente, por los tres pasillos del salón surge un treintena de personas alzando terminales de tarjetas de débito y crédito. Se aceptan Visa, Mastercad y otras. Los feligreses atienden al llamado del pastor, que recuerda que la obra del Señor debe continuarse. (Moraes, 2011, p. 79)
Ao texto como formação ágil dos meios como os discursos se transformam e agridem realidades. Portanto, a comunicação como alicerce de uma autenticidade forjada e recriadora de sensações de verdade e fé. O pastor eletrônico se alinha, através do seu poder, e remonta crises pré-modernas pela ascensão de líderes religiosos dentro do epicentro político e partidário. Dessa forma, a junção entre mídia e religião é diagnosticada como uma figura de poder tradicional encabeçando uma forma renovadora de bases conservadoras sobre o domínio e o controle. Ou seja, mesmo símbolos antigos se renovam frente às narrativas sociais disponíveis na disputa do enunciado e da verdade, no qual a cronista confere mediação e contribuição à memória social com sua mirada frente a sua prática, vivência e técnica.
Pensamos nessas figuras para representar os diferentes modos de fazer, atuar e viver a política na região latino-americana. Aos pensarmos nessas figuras estamos dialogando com líderes feministas, indígenas e quilombolas, na instrumentalização digital, na propulsão urbana, na conjunção rural, na reconfiguração de grupos sociais, étnicos e raciais, entre outros coletivos que amplificam o marco político da região. Ao ocupar, reivindicar ou retomar determinados campos no embate político essas outras figuras revisam a sua própria representação e identidade. Ao reafirmar essas condições o perfil político se pluraliza, ou seja, ao demonstrar a capacidade de reconfiguração política social o perfil político latino-americano é caracterizado por sua multiplicidade. Por isso, a discussão dessa conformação dentro do campo comunicacional se torna dialógica frente à busca por simplificações de acontecimentos políticos complexos. Para discutir esse contexto apresentamos o texto La fuerza del ombligo de Jose Navia, publicado em 2009 pela revista El Malpensante.
Na crónica de Navia o movimento indígena dos paeces da região do Cualca colombiano é mostrado frente aos combates para preservar seu território e autonomia contra as forças paramilitares e guerrilheiros das Farc. Um fator preponderante nesse relato é a conformação da memória de uma história anticolonial, no qual constantemente reforçam a luta indígena por meio de seus territórios, história e vida3 . Será a memória, portanto, constituição importante do jornalismo narrativo ao se alinhar com a vivência e a mediação. Nesse caso, o movimento indígena é visto entre um projeto identitário que tenciona o colonialismo a partir do seu habitat e origem. “Los indígenas son los primeros desaparecidos de nuestra historia, fueron invisibilizados bajo la generalización del mito de la nación blanca y es necesario quebrar con esa narrativa dominante”4 . E assim, a crónica inicia:
Con las primeras luces de la mañana se siluetean en el horizonte los picos azulosos de la cordillera Central. Al frente, junto a un río de aguas oscuras y briosas, emergen de la neblina, como fantasmas, las fachadas de color claro de La Mina, una de las 34 veredas del resguardo indígena de Jambaló, en las montañas del norte del Cauca. Alfredo Dagua, el conductor de la chiva en que viajo, hace sonar la corneta del vehículo mientras atraviesa el caserío de bahareque y teja. Las puertas están cerradas. No se ve un alma. Ni siquiera un perro. (Navia, 2009, p. 1)
A construção da história traz a presença constante do cronista, demarcando uma construção dual e sobreposta no decorrer do texto: a do “jornalista experiente” em seu “descobrimento”, e a denúncia da luta paez contra seu extermínio. A primeira parte da crónica conduz um olhar geral sobre o tema, incluindo também a formação do choque entre culturas e tempos, meios de resistências e participação coletiva. O genocídio reatualizado com ameaças de morte aos líderes paeces pelas Farc introduz a tensão dramática. Ameaças que levam a formação, como demanda comunitária, de uma Guarda Indígena para monitorar o território. As cenas construídas se intensificam a partir da segunda parte com episódios que se descolam do tempo noticioso e factual.
5:48 am. Un pájaro negro, al que los paeces llaman dormilona, cruza frente al panorámico de la chiva. El ayudante dice que es de mal agüero. La carretera se hace estrecha y empinada. Al frente, y a lado y lado, se ven montañas. Un manto de neblina envuelve a la chiva a medida que asciende hacia El Trapiche. Minutos después de pasar frente a una casa de bahareque y zinc, Alfredo Dagua pisa el freno y maniobra lento para esquivar un derrumbe. El vehículo se bambolea. La carretera se empina. Dagua mete primera y acelera. El motor, un International de ocho cilindros, responde con un bramido sordo mientras la chiva asciende con lentitud por una carretera estrecha, sinuosa, cubierta por un cascajo de color gris. El tajo ha sido aberto en la mitad de la falda de la montaña. Del lado izquierdo del vehículo se ve un barranco poblado de matas de fique; y del derecho, un precipicio de rocas y vegetación rala. Las luces amarillentas de algunas casas brillan a lo lejos, en la semioscuridad de la madrugada. El conductor dice que estamos a menos de veinte minutos de El Trapiche, una vereda de 514 almas incrustada en la parte alta de estas montañas. (Navia, 2009, p. 3)
A busca autoral em desenhar o ambiente montanhoso com sua flora e fauna, corresponde para uma ligação ao lugar de onde se fala. O respeito a esse lugar, em nossa leitura, agrega ao espaço a busca da manutenção do povo e seu território. Simultaneamente, pensamos com Hall (2010, p. 346) para conflagrar esse lugar como propulsão de afirmação identitária, pois serão suas histórias e lugares de suas experiências que fazem germinar seu eu – ou, como nesse caso, o seu eu coletivo. Referir esse local pelas ambientações realizadas pelo autor é trazer a luta indígena uma importância em conflitos que envolvem recursos naturais e controle estatal como, por exemplo, no cultivo da mata nativa frente ao avanço da agroindústria na região: “Los paeces siembran apenas lo necesariopara suplir sus necesidades básicas, una concepción sobre el uso de la tierra que causa escozor entre los terratenientes y agroindustriales del Cauca.” (p. 3). São embates que, ao passar do tempo, vai se reconstituindo frente aos desafios modernos.
En cada turno hay cuatro guardias y un representante del cabildo veredal, en este caso, Gloria Ipia, una mujer menuda que permanece de pie junto a la guadua, con el bastón de madera en la mano. Aurelio Ipia dice que además de controlar el paso, a los guardias les toca pedirles a la guerrilla y al ejército que no acampen ni patrullen cerca de donde hay viviendas. “Hace unas semanas estuvieron tirándose bombas... mataron dos reses de la comunidad”, cuenta Ipia, que tiene cinco hijos y vive de cultivar frijol, maíz y arracacha. El otro motivo por el que no quieren gente armada cerca de sus casas es porque dejan olvidados o sembrados explosivos y porque, según dice, “andan con ganas de perjudicar a las muchachas de la vereda”. El hombre señala hacia las montañas vecinas. “Por allá también hay retenes”, asegura. En algunos de estos puntos de control –me había explicado un funcionario de la alcaldía de Jambaló–, los guardias han frenteado a grupos de guerrilleros que intentan realizar patrullajes y ejercer control en un territorio que los paeces han defendido con fiereza por cientos de años. En realidad, el principal objetivo de estos retenes y de las caminatas nocturnas de la Guardia Indígena es enviarles un mensaje a los grupos armados sobre quién manda en el resguardo; y advertirles que no están dispuestos a someterse a las amenazas de nadie. Así, radicales en la defensa de su territorio y temerarios frente a la muerte, han sido los paeces durante toda su vida. (Navia, 2009, p. 4)
Ancestralidade de resistências, que nesse trecho interseccionam com a violência de gênero e mostram a face que agrega a destruição causada por guerrilheiros e exército nacional. O narrador, em constante movimento, se utiliza de digressões e introduz as motivações do conflito. O exército e polícia deixavam suas marcas, enquanto símbolos do poder estatal visando uma afirmação da sua presença. E o choque desse conflito com o grupo guerrilheiro e o exército acarretou respostas como a destruição de plantações de coca e de laboratórios que se espalhavam pelo território paez. Já para a Farc, a partir dos anos 1970, o local demarcou a origem do grupo armado, no qual os primeiros componentes conviviam nas casas de alguns indígenas, e que posteriormente, percebendo uma forte militarização, resultou nos primeiros conflitos contra povos originários. “Los rebeldes difundían un mensaje de lucha de clases y de toma del poder por medio de las armas. Hablaban de Marx y Lenin. Los indígenas solo creían en Juan Tama, Quintín Lame y otros de sus caciques históricos.” (p. 5). Fuzilamentos em série foram os resultados desse conflito “ideológico”. Mas ao mesmo tempo evidencia-se um reduto da palavra-política: “Los indios insistimos en el uso de los argumentos frente a los actores armados, pero seguiremos exigiendo los derechos sobre nuestros territorios” (p. 12), fala um dos entrevistados. Uma representação do confronto entre visões políticas (e de vida) distintas, no qual o que se mostra em sua motivação em ser-habitante é o respeito por sua territorialidade. Uma formação corpórea do fazer político de grupos originários frente à universalidade empregada pela colonialidade.
A pesar de que su nombre es uno de los que encabeza la lista de amenazados, este hombre y sus compañeros no han huido de su territorio. Sus razones son atávicas. Como casi todos los paeces, Fernández Chocué tiene enterrado su ombligo en estas montañas. Es literal. Cuando nace un niño paez, su madre abre un hueco entre la ceniza de la tulpa y allí entierra la placenta y el ombligo que corta la partera. “Yo tengo enterrado el mío en la vereda Loma Gruesa”, dice Fernández Chocué. Cuenta que lo supo a los 17 años, cuando intentó irse con unos amigos a coger café al Valle. “Mamá... ¿por qué será que yo alisto la maleta pa’ irme y al otro día ya se me quitan las ganas?”, recuerda que le preguntó un día a su madre, Dioselina Chocué. “Usted no se puede ir, mijo, porque yo le enterré el ombligo para que no se mueva de aquí”, le respondió Dioselina. A eso le atribuye el hecho de que él, como otros paeces, prefiera morir en su territorio a vivir desterrado. (Navia, 2009, p. 10-11)
relação territorial – “el indio sin la tierra es como si anduviera muerto en vida.” (p. 12). Desse modo, apontamos um fazer político agregado ao umbigo enterrado e nos seus desafios locais. Pois atualmente, o projeto de paz na Colômbia se coloca também radicado na territorialidade. “Lo local es el espacio de la identidad y de las alternativas que se construyen a partir de la cultura propia y de la vida cotidiana, es el espacio donde se da el mayor reconocimiento de la diversidad de miradas” (Uranga, 2005, p. 9). Há uma configuração na ameaça do local desterrado, de uma força sociopolítica de restabelecimento contínuo com seus antepassados, e busca por reconhecimento dos seus espaços. O não partir torna-se a “fábula” que o narrador busca nos depoimentos que recolheu – somente com vozes indígenas durante o texto.
O momento político latino-americano impulsiona esses desafios na mirada de cronistas, e não se limitam aos estereótipos e enquadramentos midiáticos de padrão massivo, corporativo e diário. Assumir essa condição, e fortalecer o seu ponto de vista, estão entre os ganhos da representatividade das vozes do jornalismo narrativo frente a essas identidades. O que não representa, necessariamente, uma pluralidade no locus de sua produção. Identidades e grupos sociais, como negros e indígenas, possuem uma representatividade módica como autoras e autores dentro do periodismo narrativo. Dentre as revistas selecionadas também possuiu um público leitor com um perfil de pessoas de classes elevadas, “contemporáneo” e de “nível acadêmico elevado”. Entretanto, ao debate do poder, entendido como controle e submissão, se reconfigura aos grupos sociais variados a fortificação maleável da sua poieses cotidiana – na representação autoral do jornalismo narrativo. Assim, a crónica de Jose Navia reconduz o elemento da memória como conexão entre representação e atuação, também conferindo entendimento de um grupo que tensiona o colonialismo desde seu habitat. A palavra-política nesse texto conecta a formação histórica e analítica de uma ação genocida, no qual a universalidade é combatida pelo enraizamento simbólico e político.
Na formação textual do jornalismo narrativo se objetivou a demonstração do espelhamento da atualidade política da América Latina analisando, de forma introdutória, alguns dos principais textos produzidos no início dos anos 2000. O que objetivamos é a conformação simbólica contida nesses textos para a reflexão real/física da vida. É nesse discurso que se pretende enxergar outros meios de reprodução dentro do jornalismo. Por conseguinte, os apontamentos desse formato evidenciam uma alternativa para a pluralidade da comunicação. Através do jornalismo narrativo temas como prostituição, violência policial, feminicídios, situação de povos nativos, entre outros, são aprofundados e ganham outro tipo de representação e visibilidade. Contudo, se entende nesse mesmo processo, as ambiguidades desse tipo de escrita, que atreladas a tantas reivindicações sociais em suas temáticas demonstram limitações enquanto representatividade autoral. Assumindo a compreensão das dificuldades de análise em termos de instabilidade e multiplicidades de consciências autorais que são evidenciadas por cada cronista no seu universo inventivo e singular. Assim como nas limitações, particularidades e desafios que integram um campo de resistência e de luta que podem ser assimilados como confrontação possível frente à silenciamentos sociais.
Esse gênero jornalístico busca delimitar um viés que desestabiliza o tempo e a agenda do jornalismo diário, corporativo e massivo. Um tempo linear e reprisado compreendido por enunciados de sua efemeridade que no passo narrativo encontra a amplificação do campo identitário. Em nossa mirada, a força criativa de apropriação de espaços políticos é evidenciada pelas crónicas com um valor subjetivo e metafórico que alimenta a poieses de uma comunicação que percebe elementos hegemônicos como instáveis frente ao comportamento social das identidades expostas. Portanto, ainda que por sua conformação autoral limitada, os elementos representativos de seu simbolismo e poética reascendem uma perspectiva política contemporânea que dialoga com uma comunicação transformadora. Apresenta, igualmente, a fonte questionadora de padrões estilísticos do jornalismo como a linguagem direta, credibilidade e objetividade. Assim, acreditamos na importância do jornalismo narrativo com sua inquietação frente aos campos sociais e comunicativos.
Alonso, P. (2007). Prensa cosmopolita: Etiqueta Negra y El Malpensante. Chasqui. Revista Latinoamericana de Comunicación, 0(99), 56 - 59. doi:https://doi.org/10.16921/chasqui. v0i99.378.
Anderson, B. (2013). Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras.
Bobbio, N.; Matteucci, N. & Pasquino, G. Dicionário de política I. Brasília: Editora UnB, 1998.
Bresser-Pereira, L. (2008). Nação, estado e estado-nação. Recuperado de https://bit.ly/2NpvFLc
Callegaro, A. & Lago, M. et al. (2011) La crónica latinoamericana como espacio de resistencia al periodismo hegemónico. Recuperado de https://bit.ly/2WS2IuI
Fanon, F. (1968). Os Condenados da Terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Foucault, M. (2002). Vigiar e punir: nascimento da prisão. 26. ed. Petrópolis: Vozes.
Galindo, J. & Naranjo, A. (2016). La crónica en el periodismo narrativo en español. Revista FAMECOS-Mídia, Cultura e Tecnologia, v. 23.
Hall, S. (2010). La cuestión de la identidad cultural. Em Restrepo, E; Walsh, C. & Vich, V. (Ed.). Sin garantías: Trayectorias y problemáticas en estudios culturales. Popayán: Envión. p. 363-404.
León, O. (2016). La comunicación popular es el camino. En ALAI. La comunicación en disputa. Quito: Agencia Latinoamericana de Información, año 40. p. 1-4. Recuperado de https:// www.alainet.org/es/revistas/513-514
Martín-Barbero, J. (2002). Ofício de cartógrafo: Travesías latinoamericanas de la comunicácion en la cultura. México: FCE.
Martín-Barbero, J. (2012a). Los oficios del comunicador. Signo y Pensamiento, [S.l.], v. 31, n. 59, p. 18-40. ISSN 2027-2731. Recuperado de https://bit.ly/33qU5td
Moraes, Camila. (2011). El pastor electrónico como estrella de TV. Etiqueta Negra, Lima, n. 96, p.74-79. Recuperado de https://bit.ly/34Bzin1
Motta, L. (2013). Análise crítica da narrativa. Brasília: Editora Universidade de Brasília.
Navia, J. (2009). La fuerza del ombligo. El Malpensante. Recuperado de
http://www.elmalpensante.com/articulo/1462/la_fuerza_del_ombligo
Quijano, A. (2007). Colonialidad del Poder y Clasificación Social. En Castro-Gómez, S. & Grosfoguel, R. El giro decolonial: Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores, p. 93-126. Recuperado de https://bit.ly/2Cj9hwD
Ramos, J. (2009). Desencuentros de la modernidad en América Latina: literatura y política en el Siglo XIX. Caracas: El Perro y La Rana.
Reguillo, R. (2007). Textos fronterizos. La crónica una escritura a la intempérie. En Falbo, G. Tras las huellas de una escritura en tránsito: La crónica contemporánea en América Latina. La Plata: Ediciones Al margen.
Segato, R. L. (2007). La nación y sus otros: raza, etnicidad y diversidad religiosa en tiempos de políticas de la identidad. Buenos Aires: Prometeo Libros Editorial.
Svampa, M. (2010). Movimientos Sociales, matrices socio-políticos y nuevos escenarios en América Latina. Recuperado de https://bit.ly/2PUfdEz
Svampa, M. (2016a). Debates latinoamericanos – Indianismo, desarrollo, dependencia, populismo. Buenos Aires: Edhasa.
Uranga, W. (2005) Desarrollo, ciudadanía, democracia: aportes desde la comunicación. Recuperado de https://bit.ly/32l4ci8
Notas al pie
1 Nesse processo, nos apoiamos na compreensão de Hegemonia como o poder e o controle exercido por comunidades políticas, culturais e econômicas em determinado sistema de relações (Bobbio; Matteucci & Pasquino, p. 579, 1998).
2 Mediakit disponibilizado pela publicação. Recuperado de https://is.gd/d9L8eP
3 Visando uma abertura na discussão plural do pensamento indígena e a relação com a memória se apresenta o relato de David Kopenawa: “Nossos pensamentos se expandem em todas as direções e nossas palavras são antigas e muitas. Elas vêm de nossos antepassados. Porém, não precisamos, como os brancos, de peles de imagens para impedi-las de fugir da nossa mente. Não temos de desenhá-las, como eles fazem com as suas. Nem por isso elas irão desaparecer, pois ficam gravadas dentro de nós. Por isso nossa memória é longa e forte.” (p.75). Cf.: Kopenawa, D. & Albert, B. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Editora Companhia das Letras, 2019.
4 Entrevista de Maristela Svampa para a rádio comunitária Kalewche. Recuperado de https://bit. ly/2qslFYI